Recentemente estive conversando com o diretor administrativo do Hospital Infantil Seara do Bem, Eder Gonçalves e a diretora clínica da unidade, a médica Tânia S. de Oliveira que forneceram um panorama do atendimento de urgência e emergência, que por vezes apresenta gargalos que colocam em xeque o serviço da instituição.
A diretora clínica diz que se sente frustrada diante das críticas uma vez que elas sobram exatamente para quem, de fato, está dando a assistência a saúde a esta faixa da população.
As queixas com relação ao hospital se referem exatamente a este atendimento de emergência que acaba sendo canalizado em sua totalidade ao Seara do Bem, apenas por uma questão de falta de conhecimento dos país que, ao invés de procurarem as unidade básicas de saúde se dirigem diretamente ao hospital a qualquer problema, seja emergencial ou não.
“Dois terços das crianças encaminhadas à emergência não precisavam estar aqui”, dizem eles.
O volume de atendimento que até cinco anos atrás ficavam, entre três mil a 3.500/mês subiu sobremaneira com picos de 6.500 a 7 mil atendimentos/mês em determinados períodos do ano.
O hospital dispunha de apenas dois médicos plantonistas, mas foi agora disponibilizado um terceiro, das 18h às 23 horas (faixa de horário de maior demanda) para aliviar a pressão sobre o hospital.
Com a demanda tão alta, cada médico de plantão teria de atender um paciente a cada 9 minutos em determinados períodos, quando a média seria de quatro pacientes por hora.
Pesquisa elaborada pelo próprio hospital mostrou que 62% destas crianças cujos pais procuraram a emergência poderiam ter atendimento em qualquer outro equipamento de saúde, em especial a unidade básica, sem prejuízo nenhum a sua saúde.
Tanto que dos atendimentos feitos diariamente apenas 2,5% a 3% são casos de internamento, quando a média das emergências dos hospitais é de 20% de internamentos. A ocupação de leitos no infantil fica na faixa de 40%.
Sem contar que chegam a ocorrer situações extremas de agressão e ameaças a médicos e funcionários “que estão ali unicamente para ajudar,” colmo lembra Tânia.
A diretora clínica conta que já se deparou com situações que quase a levou a fechar as portas e chamar o Ministério Público para apontar uma solução.
Faltam pediatras no mercado
Pelo levantamento feito, entre as várias razões que os país deixam de levar o filho na unidade básica antes de recorrer ao hospital é porque as unidades não contam com médicos pediatras – outras porque não contam com médico nenhum -, mas Tânia S. de Oliveira conta que mesmo no hospital muitas vezes não é o pediatra que está dando atendimento à criança.
Isso porque este profissional está quase em extinção.
São poucos os médicos que procuram esta especialidade, preferindo outras áreas da medicina. O próprio Seara do Bem tem feito esforço para mudar esta realidade abrindo residência para a formação de novos pediatras. Hoje são três residentes.
Mas, mesmo assim os disponíveis hoje no mercado são insuficientes.