“Ela amava a família. Sinto muita falta dela.” As palavras são do seu Sonivaldo, um pai que nunca mais vai ver a filha, Helen, mas que agora sabe que o homem que a matou não ficará impune. Ele chegou cedo à Câmara de Vereadores de Campo Belo do Sul na quinta-feira (24/4) para assistir ao julgamento, e só voltou para casa, no município vizinho de Capão Alto, depois que o ex-genro foi sentenciado a 42 anos de prisão em regime inicialmente fechado.
A sessão do Tribunal do Júri teve 13 horas de duração. Os trabalhos começaram às 9 horas da manhã e se estenderam até às 22h07. Durante esse período, aconteceu o sorteio dos jurados, os depoimentos das testemunhas, o interrogatório do réu, os debates entre o Promotor de Justiça Marco Antônio da Gama Luz Junior e os advogados de defesa, a votação dos quesitos e a leitura da sentença.
A denúncia do Ministério Público de Santa Catarina foi acolhida integralmente, condenando o réu por homicídio, qualificado pelo feminicídio, pelo motivo torpe e pelo recurso que dificultou a defesa. Segundo consta nos autos, no dia 30 de setembro de 2023, ele deu três tiros na ex-companheira na frente de um dos filhos por não se conformar com o fim do relacionamento, e fugiu a pé pela mata, sendo preso dias depois na região norte do estado.
Durante a sustentação oral, o Promotor de Justiça Marco Antônio da Gama Luz Junior falou sobre a gravidade do crime e pediu para a sociedade se unir para dar um basta nos casos de violência contra as mulheres. “A mulher é a fonte geradora da vida e precisa ser cuidada, não violentada. Não podemos admitir que um crime como esse fique impune. Precisamos de uma resposta firme para que isso não volte a se repetir”, disse ele.
Helen tinha 33 anos quando foi morta. Ela havia se mudado de Caxias do Sul para Capão Alto com os dois filhos para ficar mais perto dos pais e irmãos e se desvencilhar de um relacionamento marcado por conflitos, mas mesmo assim foi atacada de surpresa pelo homem com quem viveu por quase duas décadas, deixando uma família enlutada e uma sociedade em choque.
O irmão mais velho, Guilherme, sente falta das viagens, dos almoços em família e de vários outros momentos felizes que nunca mais se repetirão. “Sei que nunca mais verei a minha irmã, mas espero que hoje essa agonia finalmente acabe”, disse ele, referindo-se ao fato de o julgamento ter sido marcado três vezes. A sessão deveria ter acontecido no dia 30 de janeiro, mas foi adiada porque um dos advogados teve um problema de saúde na véspera.
O julgamento foi remarcado para o dia 6 de março e chegou a ser iniciado, mas foi interrompido quando a defesa abandonou o plenário, sob a alegação de que uma testemunha teria conversado com uma jurada durante um intervalo. Agora, enfim, o caso teve um desfecho. “A condenação não traz a vítima de volta, mas traz conforto à família, que, a partir de agora, poderá, finalmente, viver o seu luto”, conclui o Promotor de Justiça Marco Antônio da Gama Luz Junior.
Familiares da vítima usaram camisetas com os dizeres “Somos a voz da Helen. Apenas queremos justiça” durante a sessão do Tribunal do Júri. A cunhada Vanusa diz que ela também era uma amiga e confidente e que faz muita falta. “Nunca mais iremos ver ela, mas pelo menos a condenação alivia um pouco a nossa dor”, pondera