Sobre a negligência no atendimento da UPA

Sou formado há 30 anos , e apesar de observar evolução tecnológica também observo a involução do raciocínio médico , e o raciocínio que aqui falo se baseia na observação do paciente , desde sua postura na sala de espera, sua expressão facial , seu modo de caminhar e por aí vai.
Essa forma de raciocínio se molda através de uma das mais importantes matérias do curso de Medicina , a Semiologia , matéria na qual o médico apreende ( ou deveria aprender) a observação , a entrevista médica , o exame físico entre outros. O que venho observando nos últimos vinte anos de profissão , é que esse aprendizado está perdendo a sua qualidade , em consequência disto perde-se a qualidade do trabalho , e é óbvio que o sofrimento é do paciente e de seus familiares, como narrado na mensagem da família do Sr.Tadeu. Vi o declínio do atendimento na UPA nos últimos três anos , estava ali como um marinheiro em um navio sem navegador, vi o quanto a administração do Sr. Ceron dilapidou a qualidade do trabalho para justificar a terceirização , a cruzada movida pelo Secretário de Saúde contra médicos mais velhos e por final o descalabro da escala de plantão , que se tornou a casa da mãe Joana , com o responsável por ela aguardando a ” boa vontade” dos membros da equipe de plantonistas escolhessem os horários que iriam trabalhar , uma verdadeira atrocidade em termos de organização de escala. No meu antepenúltimo plantão na UPA , em uma sexta-feira de maio de 2023 , assumi o atendimento de adultos e para minha desagradável surpresa haviam oitenta pacientes aguardando atendimento, uma vez que no horário da tarde também havia somente um plantonista , com paciência e acima de tudo com a compreensão daquelas pessoas consegui encerrar o plantão sem danos colaterais , mas o ódio que se criou dentro de mim contra a Administração e também em especial com relação aos colegas de profissão e seu descompromisso com a profissão , o que por tabela leva ao descompromisso com o ser humano. Cuido de minha saúde e oriento meus familiares a fazerem o mesmo , pois não confio no trabalho de uma grande parte dos colegas de profissão, tendo em vista a série de erros médicos , iatrogenias e negligências que testemunhei até hoje ,.muitas vezes tendo vergonha de fazer parte desta categoria.

Carlos de Lima e Silva Filho

2 comentários em “Sobre a negligência no atendimento da UPA”

  1. Por isso que precisamos formar mais médicos…Atualmente pelo fato de serem poucos profissionais, eles nao cuidam da profissão. Querem ganhar. Quando tiver concorrência aí sim cuidarão, pois não será tão facil como é hoje para se colocar em em novo emprego.
    Apoio a abertura do curso de medicina na facvest mais rápido possivel…

    Responder
  2. Trabalhei por quase 2 anos no Hospital Seara do Bem e, tínhamos (eu trabalhava na recepção) a sensibilidade de repassar aos médicos o “estado” em que a criança (ali é infantil) chegou.
    Eu trabalhei a noite, ambulância chegando, crianças convulsionando, febre, acidente… E a gente sempre dizia… “doutor, essa criança está muito vermelha da febre, está com a dificuldade na respiração, está roxinha, está muito molinha… É assim por diante.
    Isso eu trabalhando na recepção. Eu corria o hospital atrás do médico (muitas vezes na UTI ou na ala do SUS, eu ia bo quarto do plantonista, ligava, mandava mensagem… A prioridade sempre era e sempre será a vida.
    A sensibilidade deve começar pela recepção. É isso.

    Responder

Deixe um comentário