São José do Cerrito é um dos 38 municípios catarinenses considerados prioritários para receber médicos do Programa Mais Médicos para o Brasil, do Governo Federal, lançado terça-feira pela presidenta Dilma Rousseff, como uma das medidas do Pacto pela Saúde, segundo o que nos informa a ministra Ideli Salvatti. Serão oferecidas bolsas de R$ 10 mil, pagas pelo Ministério da Saúde, aos médicos que atuarão na atenção básica da rede pública de saúde.
O Pacto pela Saúde garantirá investimento de R$ 15 bilhões até 2014. Deste montante R$ 7,4 bilhões já estão contratados para construção de 818 hospitais, 601 UPAs (Unidades de pronto Atendimento) e de 15.977 unidades básicas. Outros R$ 5,5 bilhões serão usados na construção, reforma e ampliação de unidades básicas e UPAs, além de R$ 2 bilhões para 14 hospitais universitários. Nunca foi feito um investimento tão grande na área da saúde.
Há, portanto, vontade política para resolver o problema de atendimento à saúde, seja resultado da pressão da população, seja pela conscientização dos governantes.
Não há dúvidas que é necessário melhorar a estrutura de atendimento à saúde e fornecer profissionais capacitados para colocar essa estrutura em funcionamento. Pela primeira vez está se voltando a um dos grandes problemas dessa área que é a falta de médicos.
As duas medidas tomadas: de forçar os recém-formados a irem para o interior e de importar médicos, se necessário, deverão apresentar bons resultados. Vai quebrar essa corporação que pratica a reserva de mercado para garantir privilégios. Para se ter uma ideia, um médico de fora que deseje atuar por aqui encontra dificuldades para se instalar e colocam dificuldades para a criação de novos cursos de medicina.
Até os médicos contratados para o serviço público resistem em obedecer aos horários de expediente entendendo que cabe a eles conciliar os vários empregos e a atenção aos seus clientes particulares. Além dessas medidas tomadas pela presidente Dilma é também necessário que a comunidade se mobilize para ampliar o número de vagas no curso de medicina da Uniplac, lutar para que a Udesc instale um curso no campus de Lages e que a Ufsc aprove o curso de medicina para o campus de Curitibanos.
Posicionamento do médico e diretor clínico do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, Paulo Cesar da Costa Duarte
Sra. Olivete,
Gostaria de solicitar um espaço em sua coluna para colocar o posicionamento de um médico que vive diariamente os problemas com o SUS, com ensino médico e demais aspectos da medicina, isto por que exerço a profissão como cirurgião vascular atendendo emergências no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, pacientes do interior e da região e até de outras regiões do Estado, e como Diretor Clínico do HNSP presencio as dificuldades de trabalhar com o Sistema único de Saúde e ensino médico.
Inicialmente quero dizer que nenhum médico gosta de ter uma vida corrida, com vários empregos, consultório, hospital, jornada de trabalho de doze a dezesseis horas diário, sem parar nos finais de semana para descanso, pois os pacientes continuam internados no Hospital ou precisando de atendimento nos finais de semana ou por plantões extenuantes. Gostaríamos de ter uma vida normal como qualquer brasileiro, com uma remuneração digna que permitisse dar um conforto a nossas famílias, manter a atividade médica adequada aos avanços tecnológicos e atualizada constantemente com participação em congressos, aquisição de livros técnicos, CDs, DVDs com informações médicas e tudo que é necessário para manter um bom nível de medicina. O grande desafio é manter uma medicina de bom nível com um único emprego público como hoje é oferecido a quem deseja trabalhar no Sistema único de Saúde. Qual profissional brasileiro está há quinze anos sem reajuste de seu serviço prestado? Praticamente todo profissional tem reajuste anual. O médico esta trabalhando com uma tabela de honorários sem reajuste adequado há quinze anos. Se paga uma consulta com especialista em torno de quinze a vinte reais que reduzidos os descontos ficam em onze e quatorze reais. A gorjeta que é cobrada por um garçom em restaurantes é maior que isto. A hora plantão gira em torno de setenta reais. À hora do mecânico em uma concessionária é quase o dobro disto. São contas que as pessoas não se lembram de fazer antes de criticar a extensa jornada de trabalho do médico, sacrificando sua vida pessoal e familiar.
Em relação aos programas lançados pelo governo federal quero criticar a forma autoritária e a perseguição que essa senhora que se diz democrata, a Excelentíssima Senhora Presidenta Dilma, faz com a classe médica. O problema médico não é nacional, é mundial. Acontece que estão tentando colocar o médico como bode expiatório para a ineficácia das ações de saúde do governo. Não é com a colocação de dezenas de milhares de médicos no sistema que resolverá o problema, pelo contrário, serão colocados médicos mal formados (ou a população acha que fabricar um médico de qualidade é colocá-lo numa linha de montagem e no final pendurar um estetoscópio e tem-se um bom médico) em grande quantidade, outros seres que não saberemos se realmente são médicos e como foram formados, e outros profissionais que não deram certo em seus países e aqui encontrarão um laboratório financiado pelo governo para aprenderem a praticar na tentativa e erro… E muitas outras situações que culminarão em mais erros médicos, uma assistência falha e a falsa impressão que o problema foi resolvido. Hoje não existe estrutura hospitalar para receber mais acadêmicos de medicina do que aqueles que já existem. Assim como não existem professores na área médica para mais acadêmicos do que os existentes.
Também gostaria de dizer que sou contra colocar os jovens médicos ao trabalho escravo por dois anos além dos seis que já permanecem na universidade e outros dois a cinco em especialização. Porque também não colocam os recém-formados em direito para exercer a advocacia pública por dois anos, ou os estudantes de engenharia para construírem casas, pois temos um déficit habitacional e saneamento básico gigantesco. Deve-se considerar ainda que a maior parte dos acadêmicos estuda em universidades particulares não tendo vínculo algum com o setor público. È de se pensar em uma maneira de ressarcimento para aqueles que cursam a universidade pública, mas isto para todos os cursos e não somente para a área médica, pois caracterizaria revanchismo e descriminação.
Portanto, gostaria de solicitar que deixem de culpar o médico pelos erros de gestão e ineficiência dos políticos. Poderíamos importar políticos da Noruega, Suécia, Finlândia, Japão, Alemanha e muitos outros lugares onde existem gestores honestos, comprometidos com a função pública, republicanos e democratas que pensam no bem comum e deixemos de seguir o caminho contrário da evolução da medicina achando que o excesso de pessoal é melhor que o investimento em mais tecnologia, pois é algo que se mostrou a melhor forma de organizar e melhorar os serviços independentes da área aplicada. Devemos pensar em carreira pública para o médico ao modelo da melhor organização pública de saúde no Brasil que é a Rede Sara para tratamento de lesões neurológicas e ortopédicas. Também devemos respeitar os jovens médicos com ambições e sonhos e respeitar seus pais que pagaram as faculdades particulares por seis longos anos. Finalmente, respeitem o médico, a medicina e os jovens médicos. Deixem-nos trabalhar em paz e nos dêem condições adequadas e verão que faremos muito com menos gente que o prometido pelo autoritário governo. Obrigado.