Com a palavra… Patrick Cruz

Deixemos de lado a discussão sobre se a edição de 2012 da Festa do Pinhão terá mil pessoas a mais ou a menos que em 2011. Afinal, já faz pelo menos uma década que o número de visitantes está estabilizado em torno de 300 mil pessoas (contando aí os visitantes do Recanto do Pinhão, também anotados pela contabilidade oficial). 

Da mesma forma, ignoremos a discussão sobre a eficácia do novo modelo de gestão dos chamados shows nacionais. Foi um modelo bem-sucedido, segundo comentário corrente.

E pensemos: onde está Lages na Festa do Pinhão?

O que faz um visitante, uma vez andando pelo Parque Conta Dinheiro ou pelas nossas ruas, ter a certeza de que está tomando contato com o que há de mais característico, de mais típico de nossa cidade?

Vender um produto turístico é isso: destacar o que uma cidade ou uma região tem que nenhum outro lugar tem. E muito pouca coisa na Festa do Pinhão (seja dentro ou fora do parque) deixa explícito que estamos em Lages, e não em alguma cidade do Mato Grosso do Sul (onde também faz frio e se dança vaneira), do Paraná (onde também se consomem pratos à base de pinhão) ou de São Paulo (onde também prosperam duplas do que se convencionou chamar de "sertanejo universitário").

A Festa do Pinhão foi um sucesso? A julgar pela arrecadação das bilheterias, parece que sim. Então por que repensar o modelo? Ora, porque é Lages que o turismo deveria vender, e não ingressos. Ingressos são consequência de uma estratégia maior. A discussão também é muito mais profunda do que apenas a escolha entre duplas sertanejas, grupos de pagode, cantoras de axé ou bandas de rock. O elenco é detalhe. Alguns gostam de sertanejo, alguns de milonga, outros de gospel.

Mais importante é pensar: qual o nosso produto turístico?

Blumenau arrebanha quase um milhão de pessoas todo ano com sua Oktoberfest, a maior festa de Santa Catarina. E foi assim que a cidade vendeu-se para todo o país: como uma guardiã das tradições da colonização alemã. A Oktoberfest não tem um único show nacional para atrair tanta gente. Lá estão, todo ano, as bandinhas alemãs tocando as mesmas músicas – e todo mundo se diverte.

Lages, por sua vez, arrebanha 300 mil pessoas todo ano com a Festa do Pinhão, a segunda maior festa de Santa Catarina. A cidade é conhecida por cultivar a cultura gaúcha (que, a despeito do que querem crer nossos vizinhos do Rio Grande do Sul, existe não só lá, mas também no Uruguai, na Argentina e, sim, em Santa Catarina). Mas onde está evidente essa marca?

Um exemplo explícito: Na saída do Parque Conta Dinheiro, um cartaz usado pelos turistas para tirar fotos (daqueles em que o sujeito põe a cabeça em um buraco para parecer estar vestindo as roupas da pintura do cartaz) não tinha mais a imagem da gralha, símbolo da festa. Bem poderia ter de um sujeito pilchado e de uma prenda, mas tinha a imagem de típicos peões de rodeio do interior de São Paulo.

Ok, compreende-se a escolha: o som do momento é o sertanejo. E nada contra o estilo. A discussão é outra: no ano que vem, se a moda predominante for o axé, haverá na saída do parque uma imagem de loiras rebolativas e shortinhos de verão para que os visitantes façam o registro de sua passagem pela festa? 

Na política do turismo, Lages precisa definir quem é. E isso não é só papel do poder público: é também (e principalmente, arrisco a dizer) tarefa dos empresários do setor. Blumenau empacotou o que queria vender – a cultura alemã – e assim se tornou conhecida em todo o país. Lages precisa fazer algo parecido para que nossa fama saia do restrito território que margeia a BR-282 – sob pena de perdermos a chance de estimular a indústria do turismo, a que mais cresce no mundo.

Que o debate não arrefeça sob o sucesso efêmero das bilheterias ou de um projeto de terceirização.

Abraços,

Patrick Cruz

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