Resposta ao pronunciamento de Juliano Polese

 

Sra. Olivete,

Considerando que sua coluna abre um espaço democrático para discussões e que li hoje, dia 29 de maio, no Correio Lageano as declarações do vereador Juliano Polese, solicito sua atenção e dos senhores leitores a alguns fatos relevantes a respeito da discussão sobre a contratação de médicos estrangeiros e gestão em saúde.

Dados recentes fornecidos através de amplo e profundo estudo do Conselho Federal de Medicina dão conta que no Brasil estão atuando no momento 371,788 médicos. Se considerarmos que em julho de 2012 havia no Brasil 196.946.886 habitantes, fazendo uma conta simples de divisão chegamos ao valor de um médico para cada grupo de 529 habitantes. Um número bem diferente apresentado por autoridades e pessoas informadas.

A grande diferença  é em relação ao serviço público onde dos milhares de vagas oferecidas milhares ficam sem candidatos. Devemos frisar candidatos a vaga. A pergunta é porque há tanto desinteresse no preenchimento destas vagas? A resposta é multifatorial, mas vamos tentar elucidar a situação. Inicialmente devemos considerar que as vagas que melhor pagam são por processo seletivo e não concurso público, onde o médico teria um salário compatível com sua escolaridade e importância assim como todos os direitos que são reservados aos funcionários públicos. Segundo, quando são abertos vagas por concursos os salários caem vertiginosamente, porém a carga horária surpreendentemente aumenta. Quando uma prefeitura do interior consegue convencer algum médico a atuar na sua região logo que o colega chega ao local é surpreendido com a falta de estrutura de equipamentos diagnósticos, medicamentos e mesmo pessoal que inviabilizam o exercício de uma medicina moderna e com maior capacidade de resolução quando não muitas vezes é surpreendido com a falta de pagamentos ou atrasos com a justificativa do alto custo do salário.

Temos que deixar a hipocrisia de lado e encarar seriamente o problema. Se o governo estabelecer uma política salarial séria e honesta com a realidade da carreira médica, pagando valores compatíveis com sua responsabilidade, grau de ensino e tempo de escolaridade certamente não faltaria candidatos. Enquanto algumas profissões de carreira no serviço público na área do direito ganham algo em torno de R$ 20.000,00, aos médicos são oferecidos empregos com salários de até R$ 2.400,00 para 20 horas como no tempo do então secretário Juliano Polese. Considerando que um médico demora seis anos para colar grau e depois faz mais dois a quatro anos em média de pós-graduação strictu senso (dedicação exclusiva), e os demais profissionais fazem de quatro a cinco anos de graduação e ganham muito mais com uma responsabilidade muitas vezes menor do que a que exercemos sobre a vida e saúde… Qual o motivo de tanta diferença? Ou seria indiferença em relação à importância que a saúde tem para o ser humano.

Por último, em resposta as declarações do vereador Juliano Polese em relação a médicos estrangeiros atendendo no em outros países, nos Estados Unidos pode sim trabalhar o médico estrangeiro desde que faça os exames rígidos de proficiência da língua local e exames da academia America de medicina e análise de currículo para posteriormente trabalhar com um salário justo de 90.000 a 150.000 mil dólares ao ano. Outra situação a considerar é que para lá não vão aqueles que não conseguiram se destacar em sua profissão no local de origem, pelo contrário vão médicos com extrema qualificação em busca de condições dignas de trabalho e remuneração e crescimentos profissional e científico.

Portanto, antes de acharmos soluções simplórias e eleitoreiras, temos que considerar adequar à remuneração médica com a implementação de carreira no serviço público com salários dignos, implementar um programa de adequação de instalações e equipamentos e pessoal nas unidades de saúde do interior e periferia e não somente dar o estetoscópio barato e surdo ao médico e mandá-lo ao trabalho escravo e concordo com o vereador que devemos implementar um exame nacional para iniciar a atuação do médico no estilo da OAB.

Obrigado.

Paulo Cesar da Costa Duarte – Médico Cirurgião Vascular RQE 6084 e CRM 9759

Diretor Clínico do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres

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