Sra. Olivete,
A fim de esclarecimentos, antes de qualquer questionamento, informo que por decisão do COSEMESC, entidade que reúne as representações do Conselho Regional de Medicina, Sindicato Médico e Associação Médica, os médicos de Santa Catarina, assim como de todo o Brasil farão uma paralisação de suas atividades no dia 31 de agosto do corrente mês com o objetivo de alertar as autoridades e a população sobre os riscos que o Programa Mais Médico trás para o País, para a população, ao ensino médico e aos direitos constituídos. Para tanto, serão paralisados atividades eletivas ambulatoriais, consultórios, centros cirúrgicos, mantendo os atendimentos de urgência e emergência com atendimento normal. A pergunta a ser respondida é Porque paralisar? Tentarei explicar nas linhas abaixo.
O governo brasileiro vem mantendo uma posição de baixo investimento em saúde pública há uma década, coincidentemente a década comemorada pelo partido dos trabalhadores, com níveis decrescentes de investimento em saúde e educação. À medida que o governo faz comparação com outros países, em relação à quantidade de médicos, esquece de comparar outros denominadores mais perversos que a dita falta de profissionais. Quando comparamos o investimento per capta em saúde, nosso vizinho Argentina gasta aproximadamente $ 500 (quinhentos dólares per capta pelo setor público) em saúde ao ano, Austrália e Canadá $ 7.000 (sete mil dólares), Espanha $ 3.067 (três mil e sessenta e sete dólares) enquanto o Brasil gastava no início da última década mais que os $ 200 (duzentos dólares considerando o setor público e $ 900 o setor privado) gastos atualmente. A Coréia do sul neste mesmo período quintuplicou seus gastos com saúde pública. Se vamos comparar, façamos a comparação completa e não apenas o que interessa politicamente ao governo e ao partido dos trabalhadores. Comparemos a Espanha tão anunciada pelo Governo, um país onde 97,9 % da população acima de quinze anos sabe ler e escrever, com investimento em saúde pública de 9,7% do PIB, com uma densidade de 3,71 médicos para cada 1000 habitantes e 3,22 leitos hospitalares para cada grupo de 1000 habitantes. Na outra ponta está o Brasil com investimento de 3,89% do PIB em saúde e 3,78 % em educação, 1,72 médicos (considerando serviço público visto se considerarmos o total teremos um médico para cada grupo de 559 habitantes) por 1000 habitantes, 2,4 leitos por 1000 habitantes. Outro dado importante a comparar é mortalidade infantil, enquanto na Espanha a taxa é de três óbitos para cada grupo de 1000 habitantes, no Brasil chegamos a 14,4 óbitos de crianças menores de um ano de idade para cada grupo de 1000 habitantes. Estamos no patamar da Jamaica, Albânia (…). E surpreendentemente estamos no mesmo patamar da Espanha em população abaixo do nível de pobreza com 21%.
Por isso estamos parando dia 31. Por que o problema não é a falta de médicos no setor público, exclusivamente. É a falta de investimentos reais em saúde pública, em saneamento básico, em educação (…). Não aceitamos a forma injusta que o governo tenta colocar a sociedade contra uma classe que tanto tem colaborado com o crescimento do país nas áreas de serviço e tecnologias na área da saúde. Não aceitamos que grupos de estrangeiros venham trabalhar no Brasil sem a revalidação dos diplomas como manda a lei e não por esquemas especiais já montados para passar desqualificados com redução de médias, documentos incompletos e outras falcatruas intituladas como urgentes. Vamos paralisar dia 31 por acreditarmos que a medicina no Brasil tem um valor maior que aquele que o partido dos trabalhadores quer rotular. Nós médico e medicina crescemos com o Brasil ajudando os brasileiros, não precisamos de um desserviço que um governo autoritário pretende implementar. Hoje somos nós os rotulados problemas ao partido dos trabalhadores e amanhã quem será? Espero que a população abra os olhos às manipulações e aos gastos estratosféricos com mídia e compra de informações para manipular a opinião pública. Salvem o Brasil. Ajudem-nos a dar a dose certa do remédio que precisamos para resolver a saúde no Brasil. Pedimos o apóio ao SAÚDE + 10 projeto que obriga o governo a gastar 10 % do PIB em saúde e aí sim estaremos no caminho da resolução das mazelas que afligem a saúde pública no Brasil. Deixem-nos ensinar nossos acadêmicos com melhor qualidade e estrutura. Pedimos compreensão para a população, mas estamos protestando por uma saúde decente a todos os brasileiros e não apenas aqueles camarada que podem se tratar no Sírio Libanês em São Paulo. Obrigado.
Paulo Cesar da Costa Duarte –
Diretor Clínico do HNSP – Médico Cirurgião Vascular