Capitania hereditária
A lógica toda está mais do que clara: o secretário Jurandi Agustini deixa a SDR de Lages e ganha como prêmio de consolação uma função qualquer numa secretaria tanto faz (no caso, a da Saúde, mas isso não tem a menor importância). A SDR é assumida por Gabriel Ribeiro, sobrinho do governador, filho de Décio Ribeiro, outro ex-prefeito de Lages, e aparentemente um nome que se quer ungir para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa (e que será, é claro, um cabo eleitoral fidelíssimo na campanha do governador à reeleição).
Como eu disse, está muito claro. O que está igualmente claro – mas que até aqui não foi dito com todas as letras, ao menos no caso dessa sucessão – é:
1 – Estamos conversados que as SDRs são um instrumento para atuação política do governante da ocasião, certo? Sendo assim, não deveria o cabo eleitoral em questão ser remunerado pelo PSD, partido do governador, e não pelos contribuintes catarinenses?
2 – Gabriel Ribeiro é jovem, talvez até seja um bom sujeito, simpático, bom filho, bom amigo (jamais travei palavra com ele para ter alguma referência), mas dizer que ele representa “sangue novo” na política é o mesmo que chamar de novas as taipas da Coxilha Rica: sendo sobrinho de quem é, e filho de quem é, e parente de tanta gente que é algo na terra do governador há décadas, tudo o que ele não é é renovação;
3 – Aliás, que credencial tem o jovem Gabriel Ribeiro – além do já notório parentesco – para ser nomeado secretário de estado? “É por já conhecer a estrutura do governo” talvez seja a única resposta que me darão. Ora, se ele só conhece o governo por dentro porque foi levado para lá por nada além que o bom parentesco, quer dizer que só terá chance de “conhecer bem a estrutura do governo” quem tiver costas quentes? Não era a isso que se dava o nome de nepotismo?
4 – Passar o bastão do poder assim, quase como em uma sucessão monárquica, deixa transparecer o seguinte: há quem acredite que a popularidade em sua terra natal dá ao cacique poderes de governá-la como a uma capitania hereditária;
5 – Aliás, por falar em nepotismo, alguém sabe aí onde anda o Ministério Público?
6 – E por falar em nepotismo e cabide de emprego e secretarias de estado usadas como trampolins na carreira de sobrinhos semidesconhecidos, alguém aí sabe se ainda existe alguma oposição em terras garibaldinas?
Lembremos: a crítica não é declaração de voto. A crítica é a essência da democracia. Sem ela, até os cordeirinhos viram déspotas.
Abraços,
Patrick Cruz
Jornalista