Engenheiro se posiciona a respeito do Aristiliano

 

 

 

Diante da polêmica que está causando o assunto ref. ao futuro do colégio, venho encaminhar e disponibilizar o relatório técnico de vistoria que efetuei em maio de 2012 à Escola Aristiliano Ramos.

 

Gostaria de deixar bem claro que a minha posição é técnica e isenta de qualquer vínculo com qualquer pessoa ou órgão municipal ou estadual. Também fui aluno do colégio!

 

Este trabalho foi elaborado para a disciplina de “Perícias em Madeiras” no curso de Especialização em Avaliações e Perícias da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

 

Pondero que as autoridades levem em consideração os fatos relatados no laudo que são reais e podem ser comprovados “in loco” a qualquer momento.

 

Este relatório não tem a intenção de definir qual o melhor destino ao espaço onde existe o colégio, isto caberá as autoridades envolvidas e a comunidade decidirem.

Que a decisão que for tomada preserve o bem estar dos usuários e acima de tudo a vida das pessoas.

Me coloco a disposição.

 

Atenciosamente

Luiz Fernando Figueiredo

 

Conteúdo do relatório:

 

  1. Informações:

 

O colégio Aristiliano Ramos é um educandário de ensino básico, tradicional da cidade de Lages, que possui 77 anos de idade. Situa-se na praça João Costa, no calçadão do centro da cidade. Recentemente a instituição de ensino foi interditada pela defesa civil e autoridades devido ao suposto risco à segurança dos usuários, especialmente pela notícia de que a cobertura de madeira iria desabar.

O prédio possui dois pavimentos, área de aprox.. 2100 m² (bloco principal) objeto da vistoria. Construído em alvenaria de tijolos maciços autoportante. Possui assoalho de madeira no piso térreo, estrutura de madeira com assoalho no pavimento Superior e forro com estrutura de madeira no telhado de cobertura.

Foi realizada vistoria no prédio em 21 de abril de 2012 pelo Eng. Civil Luiz Fernando Figueiredo acompanhada pelo Sr. Deivid Francis Stadinick, funcionário da SDR – Secretária de Desenvolvimento Regional – Lages/SC

Constatamos diversos problemas como: a presença de umidade nas paredes, assoalho e cobertura; infiltrações de água na cobertura; deformações excessivas em peças estruturais de madeira no pav. Superior e cobertura; fiação elétrica completamente comprometida com fios expostos e mal condicionados; segurança quanto a equipamentos e medidas preventivas de incêndio deficientes e fora das normas de segurança mínimas exigidas pelo corpo de bombeiros; acessibilidade aos usuários inadequada.

O prédio passou por uma reforma a cerca de sete anos a qual apenas maquiou a edificação com interferências sob o aspecto estético principalmente. Nota-se que foram realizados alguns reforços com cabos de aço nas treliças de madeira existentes no teto do pátio (do pavimento Térreo) onde no pavimento superior situa-se o anfiteatro. Também encontramos alguns reforços metálicos na estrutura que suporta o telhado.

A maioria dos problemas é devida à falta de manutenção e prevenção adequada da edificação. Os elementos de madeira aparentemente não sofreram qualquer tipo de tratamento e sofrem à decomposição acelerada pelo ataque de bactérias aeróbicas facilitadas pelo ambiente de umidade devido às infiltrações.

A madeira que foi utilizada em todo o prédio foi o pinheiro brasileiro (pinho do paraná) – nome científico araucária angustifólia – anexo dados com as principais características da madeira (www.ipt.br).

O prédio apresenta deterioração ao longo do tempo e os elementos que o constituem não apresentam aspectos satisfatórios quanto à segurança e bem estar dos usuários.

Estruturalmente as paredes de alvenaria estão satisfatoriamente estáveis e apresentam capacidade de suporte condizente com suas funções de vedação e suporte do piso do pavimento superior e cobertura, ambos de madeiras.

O ponto crítico e com risco de estabilidade está na estrutura de madeira em geral, especialmente no piso do anfiteatro do pavimento superior, teto do anfiteatro (cobertura), onde os vãos livres são maiores e onde é visual as deformações excessivas das peças que compõem a estrutura nestes locais.

  1. Riscos:

 

    • Em função dos problemas relatados, a estrutura de madeira está comprometida;
    • Faz-se necessária uma recuperação de todas as falhas estruturais relatadas e não relatadas, aparentes e visuais na estrutura.
    • A estrutura como está não apresenta um desempenho adequado à sua finalidade;
    • As deformações excessivas na estrutura sugerem riscos maiores, inclusive de estabilidade estrutural, colocando em risco os usuários da edificação.
  1. Recuperação:

 

Torna-se inviável a recuperação da estrutura de madeira existente.

Se considerarmos que os elementos de madeira que aparentemente não apresentam patologias comprometedoras, mesmo assim, estes já possuem uma vida de pelo menos 77 anos e seu estado de deterioração é visível e progressivo, pois não receberam qualquer tipo de tratamento e conservação.

As reformas feitas nos elementos de madeira foram de pequeno porte e não alteraram o quadro sob o aspecto da durabilidade da estrutura.

Instalações em geral, especialmente as elétricas estão comprometidas, subdimensionadas e não atendem a demanda atual de uma escola deste porte. A segurança está comprometida e o risco de eventual sinistro é real.

  1. Conclusão:

 

Além dos aspectos relativos à segurança das pessoas e à vida útil da edificação, a alternativa de nova construção seria a de melhor senso, pois seria adequada aos padrões de uso e normas de acessibilidade e sustentabilidade atuais com maior e melhor custo/benefício aos usuários e aos gestores.

Julgamos procedente e prudente a ação tomada de interdição do educandário  pois o risco de ocorrência de evento com probabilidade de atingir pessoas é real e a vida das pessoas sempre deve ser preservada acima de qualquer questão.

A demolição da edificação seria tecnicamente a melhor alternativa.

 

Quanto a decisão de construção ou não de outra escola ou a hipótese de utilização do espaço com outros fins, para uso da população, caberá à opinião pública e às autoridades competentes decidirem.

 

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